Como mãe de duas meninas, que nasceram com 6 anos de diferença entre elas, sei bem o quanto tem sido diferente criar cada uma delas. Cada dia mais tenho observado as dificuldades que temos (digo temos porque eu também estou incluída) em dar limites a nossos filhos. E para mim isso é uma coisa fundamental. Vou confessar – sem medo algum de ser tachada como chata, talvez intolerante, mas com a tranquilidade de quem também sente na pele as aflições e incertezas do ser mãe – que me sinto completamente incomodada quando vejo crianças que não têm limites. Debaixo dos olhos dos pais, agem como pequenos tiranos. "Reizinhos" que existem apenas para terem suas vontades satisfeitas – e aí de quem contrariá-las.
Não vou negar, mas recentemente fiquei chocada ao assistir uma matéria num telejornal sobre o Dia dos Avós em que todos exaltavam o fato de que quem mandava em casa eram as crianças. Sim, o termo usado era mandar. Eram elas que decidiam o que podia ser visto na televisão, o que se podia fazer ou não dentro da residência, bagunçar o que estava arrumado e depois de um “eu te amo” tudo ficava bem. Claro que toda criança tenta fazer isso. Mas eu entendo que cabe a nós, pais, adultos mostrar a elas que existem limites.
Psicóloga Marília Franco |
Foi pensando nisso que o Conversinha de Mãe entrevistou a psicóloga Marília de Lima Franco, especializada em psicopedagogia e neuropsicologia, para tratarmos sobre a importância de dar limites para a criança. Nessa entrevista, a profissional fala sobre como as crianças, desde as menores, entendem e aprendem a ter limites a partir do que os pais lhe ensinam, a importância do não e o quanto tudo isso, claro, é difícil para pais e mães, alguns temas que ela tratou na palestra para papais e mamães do Berçário e Escola Dona Cegonha, dentro do projeto Escola de Pais. Confiram nossa entrevista, comentem e compartilhem com outros pais.
Conversinha de Mãe - Nos dias de hoje, dar limite aos filhos é um dos grandes desafios da maternidade e da paternidade. Como fazer isso, já que as crianças parecem mais contestadoras?
Marília Franco - Colocar limites é uma maneira de ajudar a criança a modificar seu comportamento sem prejudicar sua autoestima. Consiste em determinar com clareza o que é permitido e o que é proibido. As crianças não vêm ao mundo com esse saber, é um saber adquirido, uma aprendizagem social e os pais são os principais responsáveis por ensinar-lhes esse tipo de atitude. No papel de adultos devem, com paciência, determinação, segurança e uma grande capacidade de repetir a mesma coisa tantas vezes quantas forem necessárias, fazê-las, paulatinamente, lembrar e perceber seus limites.
CdM - A partir de que idade isso já pode ser feito? A partir de que idade as crianças entendem?
MF - Para cada estágio do desenvolvimento infantil existem comportamentos e necessidades diferentes. Com a consciência disso, fica muito mais fácil para os pais se posicionarem em relação aos limites a serem trabalhados e a atuarem melhor junto a seus filhos, sempre tendo em vista atender às suas necessidades físicas, intelectuais e psicológicas. Já nos primeiros meses de vida a mãe começa a dar indícios do que é permitido e do que é proibido. Por exemplo: nessa idade é comum que o bebê morda os mamilos quando está sendo amamentado. Afastando o bebê do peito, de forma firme e carinhosa, a mãe pode deixar claro que isso a desagrada. Já é, portanto, uma regra com a qual a criança está aprendendo a respeitar outra pessoa.
CdM - Às vezes, a falta de tempo dos pais faz eles serem mais permissivos. Qual o grande perigo disso?
MF - A superproteção está muito ligada à culpa e à insegurança. Muitos pais pensam que ser bom é, literalmente, fazer tudo pela criança, estar sempre à disposição para atender tudo o que ela pede ou acha que precisa. Alguns pais não sabem dizer não e, quando o fazem, acabam voltando atrás no momento seguinte por não estarem seguros que estão certos, por não confiarem na sua capacidade de amar, de proteger bem seu filho ou ainda por não terem a certeza do momento adequado. Sem dúvida, a rotina de pais que trabalham muito é difícil, pois as crianças são insistentes, sabem defender o que desejam e nem sempre os pais dispostos para resolver tais situações.
CdM - Os pais também precisam de limites? Quais?
MF - Educar os filhos é uma tarefa complexa. Cada nova etapa do desenvolvimento da criança é um desafio à capacidade e à flexibilidade dos pais. Para os pais, a arte de educar consiste na possibilidade de crescerem junto com a criança, respeitando e acompanhando a trajetória que vai da dependência quase total do bebê para a autonomia e independência do filho já quase adulto. No entanto, muitos pais têm grandes dificuldades de em estabelecer limites para os filhos e em dar fim a discussões e a pequenas questões do dia a dia, parecendo temer essa autoridade que lhe é de direito. É necessário contar com a intuição, o bom senso, a sensibilidade, as boas intenções, a força do amor que liga aos filhos e a própria experiência de vida (seja positiva ou negativa). O medo de dizer “não” muitas vezes causa um comportamento equivocado: o de aceitar tudo que os filhos almejam, para não “errarem”. Estão assim, criando um filho sem limites.
CdM - A criança se sente mais segura com os limites?
MF - Os pais precisam fazer com que os filhos aprendam que eles têm escolhas, que podem se tornar vencedores, pessoas felizes. Mas que para chegarem a isso precisam aprender a lidar com o mundo como ele é. E isso só será possível se, no tempo certo, no momento exato e da forma correta, forem lhes aplicados os limites. Limites esses que serão os grandes responsáveis pela formação de pessoas capazes de conviver bem no meio social, de tornarem-se verdadeiros cidadãos e, principalmente, capazes de virem a ser, futuramente, tão bons pais quanto aqueles que souberam lhes colocar os limites de que necessitavam.
Espero que tenham gostado da nossa entrevista.
Beijos
Siga-nos nas redes sociais:
@conversinhademae (no Instagram)
@conversinhadmae (no Twitter)
Curta nossa página no Facebook: https://www.facebook.com/conversinhademae