No começo do ano, minha filha Beatriz, a maior, estava se queixando muito de dores nas pernas. Praticamente todo dia ela se queixava. E cada vez mais frequente. Logo me veio à mente as dores que eu sentia nas minhas no início da adolescência. Até chegar a um diagnóstico, senti muitas, muitas dores. Fui para vários especialistas, até que depois de anos e muitas dores, já adulta, descobri que tinha lúpus e as dores eram causadas pela doença.
Mas voltando à minha filha, fiquei muito preocupada, temendo que ela estivesse passando pelo mesmo processo que eu, embora saiba que lúpus não é genético. Levei-a a um reumatologista que após várias perguntas sobre a frequência e os períodos da dor (ele passou também alguns exames para descartar o lúpus) chegou à conclusão que se tratava da dor do crescimento.
A dor nas pernas é queixa frequente em crianças de cinco a 10 anos. Tradicionalmente é chamada de dor de crescimento, apesar de não haver relação clara com as fases de crescimento acelerado. É importante que os pais valorizem este sintoma, porque em uma minoria dos casos pode estar associado a doenças pediátricas e ortopédicas.
A dor de crescimento tem as seguintes características:
- não interfere nas atividades diárias;
- tem duração variável, de poucos minutos a algumas horas;
- melhora espontaneamente sem medicamentos ou com massagem local;
- não é contínua, há períodos de melhora que variam de dias a semanas;
- não é acompanhada de inchaço articular, claudicação ou febre;
- acomete os dois lados;
- a criança SEMPRE tem aspecto saudável.
A dor é mais comum no final da tarde, mas pode ocorrer à noite. Cerca de 30% das crianças também reclamam de dor de barriga e cabeça. Em alguns casos observam-se problemas emocionais, como ansiedade e problemas de relacionamento. Pode haver coincidência com mudanças na vida da criança, como o nascimento de um irmão ou mudança de escola.
Não é necessário tratamento medicamentoso para a dor de crescimento, e há melhora com o passar do tempo. Os pais devem procurar o pediatra, que é o profissional indicado para diagnosticar e orientar a conduta. Algumas crianças melhoram quando praticam esportes de baixo impacto como natação, por exemplo.
Não se pode esquecer que algumas doenças infecciosas e oncológicas podem se manifestar com dor nas pernas, que nestes casos costuma ser de forte intensidade e acompanhada de outros sintomas, relacionados a seguir:
Sinais de alerta para as crianças e adolescentes com dor músculoesquelética.
1. Dor localizada em um único ponto (exemplo: um joelho, um tornozelo etc).
2. Mancar (claudicação).
3. Dor nas costas, mesmo em crianças que usem mochilas, especialmente ao acordar pela manhã.
4. Dificuldade na realização das atividades diárias, como brincar, correr ou praticar esportes.
5. Inchaço em uma ou mais articulações.
6. Febre persistente, não associada à infecção aparente.
7. Emagrecimento exagerado em um curto espaço de tempo (poucos meses).
8. Pouca melhora com massagem ou analgésicos comuns.
9. Fraqueza muscular (dificuldade para subir escadas ou para levantar objetos pesados).
Algumas crianças que apresentam dor depois de exercícios físicos têm aumento da frouxidão dos ligamentos, o que acarreta uma condição chamada hipermobilidade articular (articulações mais flexíveis). Pode se localizar nas mãos, braços, pernas e coluna. Consulta com o pediatra é recomendável para confirmar o diagnóstico. Nos casos de dor intensa, devem ser evitados o balé e alguns esportes de alto impacto, como o futebol e o basquete. Natação e a hidroginástica são indicadas na maioria dos casos.
Em algumas crianças a dor pode estar associada ao uso de videogames e computadores, caracterizando as lesões de esforço repetitivo. O problema é decorrente de movimentos contínuos nos períodos de estudo ou de lazer, posturas inadequadas e estresse emocional. A dor se acompanha de sensação de “queimação” ou de peso, e às vezes vem acompanhada de formigamento nas extremidades dos dedos. Pode atingir punhos, antebraços, mãos e coluna.
O uso de computadores e videogames por crianças deve ser restrito a uma a duas horas por dia, no máximo, com supervisão dos pais. Dessa maneira, evita-se uma sobrecarga do sistema músculoesquelético, além do estresse relacionado a esta situação. Para os adolescentes que utilizam muito o computador, a melhor forma de prevenir as lesões é a manutenção de uma postura correta. Devem ser orientados exercícios de alongamento e relaxamento dos braços, punhos, mãos e coluna por cerca de dez minutos a cada hora.
E sempre na dúvida a orientação é procurar o pediatra.
Beijos
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Fonte: Pediatra Orienta - Sociedade de Pediatria de São Paulo