Vitor Hugo tinha apenas um ano e sete meses e dormia tranquilamente até que uma tragédia aconteceu em sua casa, num bairro do município de Itabaiana, no Agreste de Sergipe. A vela, que uma tia tinha deixado acessa, pois o fornecimento de energia na residência tinha sido cortado, acabou caindo e incendiando a casa. O bebê chegou a ser socorrido, teve 90% do corpo queimado, mas não resistiu. Infelizmente, Vitor faz parte de uma triste estatística no país: a de crianças vítimas de acidentes domésticos.
No Brasil, os acidentes são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de até 14 anos. No ano de 2014, foram 4.316 mortes por acidentes de crianças e adolescentes no Brasil. Embora ainda muito elevado, esse total de óbitos teve uma redução de 31% de 2001 a 2014, em números absolutos. Esses dados fazem parte da pesquisa lançada pela ONG Criança Segura (que trabalha na prevenção de acidentes com crianças), pela passagem do Dia Nacional de Prevenção de Acidentes, em 30 de agosto, e pelos seus 15 anos de atuação.
A publicação “15 anos de atuação da Criança Segura no Brasil: Análise de indicadores de mortes e internações por acidentes na infância e adolescência desde 2001” detalhada desses dados. Com relação à taxa por 100 mil habitantes de zero a 14 anos, houve uma redução de 12,32 mortes em 2001 para 9,40 mortes em 2014, o que representa uma queda de 23,67% na taxa de óbitos infantis por 100 mil habitantes por acidentes no período analisado.
Sergipe, no entanto, está entre os estados em que essa taxa ficou abaixo da média nacional por 100 mil habitantes. Enquanto a taxa nacional de redução ficou em 23,67%, em Sergipe foi de 12,95%. Já o número de internações, neste mesmo ano, ficou em 119.923. No período analisado pela pesquisa, constatou-se um aumento de 8% no total de internações do público infanto-juvenil.
Houve uma redução significativa das mortes por quedas (-39%), queimaduras (-41%) e por arma de fogo (-54%). Já os óbitos por acidentes de trânsito diminuíram 34% e por afogamentos a redução foi de 32%. Por outro lado, as mortes por sufocação e intoxicação aumentaram no período analisado, 7% e 1%, respectivamente.
Susto
E quem tem criança em casa sabe: ninguém está livre de passar pelo susto de um acidente doméstico. Mãe de três filhos, hoje com 13, 8 e 3 anos, a bancária Lívia Mascarenhas sabe bem disso. Ela já passou por alguns! O mais velho, Pedro, já foi parar no hospital por uma alergia a medicamento e precisou tomar adrenalina, a caçula, Sophia, bateu a cabeça na inauguração do videogame e precisou fazer tomografia e outra vez deslocou o braço numa brincadeira com a mamãe e o do meio, Paulo, caiu dormindo e levou 8 pontos na cabeça.
Mas nenhum desses acidentes foi tão assustador como quando o Paulo, na época com apenas 1 ano, se engasgou e teve que ser levado para a emergência, já desfalecido. Ele precisava tomar uma medicação. Como a maioria das crianças nessa idade, ele não gostava e estava resistindo. Achando que poderia facilitar a ingestão do remédio, Lívia decidiu colocar numa seringa e pôs na boca do garoto. “Como ele estava travando, sem querer engolir, virei ele deitado, quase de cabeça para baixo para engolir”, relatou.
A bancária Lívia já passou por alguns sustos com os pequenos |
Pensando que o Paulo tinha engolido, Lívia o colocou numa banheira com água que ele gostava de brincar e ficou olhando. “Quando observei, ele estava meio que desfalecendo e pensei que estava com sono e até comentei com minha mãe. Mas quando cheguei perto dele estava todo roxo e vi que estava sufocado”, disse. O menino já foi levado ao hospital já quase sem respirar e com o corpo frio. Seis pessoas o atenderam e conseguiram reanimá-lo. Lívia ainda tomou uma bronca da médica que informou que não se pode virar a criança depois que ela ingere o medicamento.
Paulo ficou uma noite em observação para ver se tinha tido alguma sequela cerebral pelo tempo que ficou desacordado e fez raio-x nos pulmões para ver se tinha aspirado o remédio. “Foi uma experiência muito doida, porque nunca imaginei o dano que poderia causar a meu filho por forçar ele a beber o remédio daquela forma. Aprendi, de uma forma muito difícil, mas graças a Deus ficou tudo bem”, disse, aliviada.
DICAS DE PREVENÇÃO:
Como ninguém está imune a passar por esses sufocos com crianças, mesmo dentro da própria casa, onde a gente julga estar mais segura, a melhor forma então é mesmo se prevenir. A coluna Conversinha de Mãe traz algumas dicas de como evitar esses acidentes domésticos. Confira:
- Deixe as panelas sobre o fogão com os cabos voltados para dentro e não permita que crianças fiquem próximas ou mexam no fogão.
- Ao colocar panelas com alimentos e líquidos quentes sobre a mesa, também deixe-as mais ao centro e com cabos para dentro.
- Com crianças em casa, evite toalhas de mesa compridas, para que eles não puxem para acessar os objetos sobre a mesa.
- Após carregar o celular, não deixe o carregador ligado à rede de energia, para que a criança não tome choque.
- Guarde todos os produtos de higiene e limpeza, venenos e medicamentos trancados, fora da vista e do alcance das crianças.
- Evite produtos de limpeza em garrafas pet de refrigerantes. O colorido dos líquidos é um atrativo para as crianças que podem achar que pode ingeri-los.
- Evite tapetes pela casa ou opte pelos antiderrapantes, para evitar escorregões e tropeços.
- Mantenha baldes e bacias sempre de cabeça para baixo e após usá-los lembre-se sempre de esvaziá-los.
- Ensine a criança a guardar os brinquedos após usá-los, para evitar que a bagunça espalhada cause quedas.
- Use portões de segurança no topo e na base das escadas. Se for escada aberta, instale redes ao longo dela.
- Coloque grades ou redes de proteção nas janelas, sacadas e mezaninos. As redes devem ter espaços de, no máximo, 6 centímetros.
- Crianças menores de seis anos não devem dormir em beliche. Se essa for a única escolha, tenha grades de proteção nas laterais.
- Tenha sempre em um lugar de fácil acesso uma caixa de primeiros socorros e telefones úteis em caso de acidente.
Beijos
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