Se a morte não é uma situação nada fácil para nós, adultos, lidarmos, quanto mais para as crianças. Por mais que seja um familiar que já vinha doente há algum tempo, a partida de um ente querido é sempre dolorosa para todos. Mas o que fazer quando nesse contexto tem uma criança. Minha filha Beatriz tinha apenas 4 anos quando, como mãe, tive a primeira experiência com morte de algum familiar. A irmã de meu marido, a quem ela era muito apegada, ficou doente e, em apenas cinco dias de internação ela veio a falecer.
Começo, meio e fim
Frei Betto– Ed. Rocco Pequenos Leitores
O Meu Avô Foi Para o Céu
Maria Teresa Maia Gonzalez – Editorial Presença
A história do garoto Tim, de 9 anos, que levava uma vida normal, com muitas brincadeiras e aventuras, sonhos e que todos os dias visitava seus avós maternos, que moravam muito perto. Até que o avô Jerônimo morreu. E então Tim recebe um desafio inesperado da avó Paula.
Para todos nós foi um choque, uma coisa totalmente inesperada e a primeira vez que ela teve que lidar com a perda de uma pessoa próxima querida. Sem saber como lidar com essa situação, recebemos a notícia da morte em uma noite e já na manhã do dia seguinte ela teria que ser sepultada. Como único irmão, meu marido tinha que ajudar a resolver a parte legal e não sabíamos de que forma dar a ela essa notícia. Como foi tudo muito rápido, decidimos levar ela para escola, sem falar nada e tentando não demonstrar o que estava acontecendo. Conversei com a professora que ela ainda não tinha conhecimento do ocorrido e em casa tentamos não deixar que ela soubesse.
No entanto, tínhamos em mente que era por nós, seus pais, que ela deveria saber que não veria mais sua tia, com quem ela brincava como se as duas tivessem a mesma idade. Esperamos a melhor oportunidade para contar. No sábado à noite, quando o pai ia sair para ir à casa da avó, ela perguntou se ele iria ajudar a vovó a cuidar da tia. Decidimos que essa seria a hora oportuna. A princípio, o único comentário dela foi: “Mas ela foi muito rápido, né, pai?”. Nos surpreendemos com tanta sabedoria em discernir que o natural é que primeiro vão os mais velhos. Mas foi apenas num segundo momento que percebi que ela realmente tinha entendido que não veria mais a tia e chorou, chorou muito.
Deixei que ela chorasse à vontade, que vivesse esse momento de tristeza, até então desconhecido para ela. Como mãe, não queria que ela tivesse vivido aquilo. Mas tinha a consciência que ela precisava saber a verdade e por nós. É uma situação fácil? Não. De forma alguma!! Se fosse hoje, talvez tivesse agido de outra forma; se tivesse havido mais tempo para a despedida, talvez!
Depois desse episódio, tivemos duas outras situações de morte que passamos com ela, a de um senhor e uma senhora que ela gostava muito e que a tratavam como neta. Nos dois, contamos, perguntamos se ela queria participar do velório e funeral e ela participou. O choro, as perguntas sobre a morte aconteceram algumas vezes depois de passados esses dois casos. Pensando bem, é difícil para a criança entender (e aceitar também) que não terá mais aquela pessoa fisicamente na sua convivência.
Acontece que muitas vezes esse assunto acaba vindo à tona somente quando a morte ocorre. Ser sincera com a criança é o fundamental nesse momento. Embora não estejamos preparados, a morte faz parte da vida. É do ciclo natural da existência humana, assim como de todos seres vivos. Daí uma boa forma pode ser usar a figuração do ciclo da natureza – em que os seres nascem, crescem, adoecem e morrem – como exemplo para a realidade da morte.
Especialistas não recomendam o uso de linguagens metafóricas, pois podem causar confusão na cabeça da criança. Ao falar que o vovô que morreu descansou ou que o papai viajou ou a madrinha virou uma estrelinha para poupá-la da dura realidade, pode-se criar uma falsa expectativa na criança de que vai vê-los acordar, ou ver o papai voltar.
Dar a opção à criança de participar de todo ritual de passagem do querido que morreu é também uma chance de deixá-la viver todo esse momento. Mas essa deve ser uma decisão da criança. Deixá-la de fora por decisão dos adultos pode representar no futuro uma frustração por não ter podido se despedir.
Assim como os adultos, cada criança tende a reagir à morte de um ente querido de uma forma diferente. Algumas podem aceitar mais naturalmente, outras podem apenas chorar no dia, outras ainda sentirem muito a falta da pessoa que se foi e isso levar mudanças de comportamento, como revolta, raiva, alteração de atitude na escola... Nesses casos, é sempre bom procurar ajuda de um psicólogo, para que a criança possa passar por isso da forma menos traumática possível.
Mas todo apoio, carinho, atenção e sinceridade nesse momento farão toda diferença. Passar para ela a segurança e a certeza de que, apesar da morte, as lembranças vividas ao lado daquela pessoa nunca serão apagadas da memória e do coração.
Algumas sugestões de livros para abordar esse tema com as crianças:
Começo, meio e fim
Frei Betto– Ed. Rocco Pequenos Leitores
O livro conta a história de uma menina que, numa visita ao avô adoentado, acaba aprendendo um pouco mais sobre a vida, o amor e a fé, ao lidar com a iminência da morte. A linguagem descomplicada e as graciosas ilustrações de Vanessa Prezoto tornam o assunto menos amargo para os pequenos.
Menina Nina
Ziraldo – Ed. Melhoramentos
Comovente livro do cartunista Ziraldo, em que relata a morte de sua mulher Vilma e como foi todo o processo para sua neta Nina. Com uma enternecedora força poética, o autor sonda os mistérios da vida e da morte e, numa linguagem cuidada e simples, consegue falar da dor de um modo delicado e cheio de esperança.
O Meu Avô Foi Para o Céu
Maria Teresa Maia Gonzalez – Editorial Presença
A história do garoto Tim, de 9 anos, que levava uma vida normal, com muitas brincadeiras e aventuras, sonhos e que todos os dias visitava seus avós maternos, que moravam muito perto. Até que o avô Jerônimo morreu. E então Tim recebe um desafio inesperado da avó Paula.
Para Onde Vamos Quando Desaparecemos?
Isabel Minhós Martins – Ed. Tordesilhas
Trata os temas da morte e da perda com analogias leves e sensíveis. Mostra, assim, que a ausência de respostas definitivas, em vez de angustiante, pode ser a oportunidade certa para que a imaginação ganhe asas e explore inúmeras possibilidades.
Beijos
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