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Desfazendo o tabu da primeira consulta ao ginecologista

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Saber o momento ideal para levar a filha ao ginecologista é uma dúvida muito comum a muitas mãe e pais. Acostumados a fazer o acompanhamento da saúde e desenvolvimento das meninas com o pediatra, muitos acreditam que apenas depois da primeira menstruação ou caso surja algum problema genital seria necessário a procura de um especialista. Na verdade, a primeira consulta ginecológica ainda é um grande tabu.

A ginecologista e professora do curso de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Júlia Dias, explica que no início da adolescência, entre os 9 ou, 10 anos, é extremamente importante que a menina seja levada ao ginecologista. “Essa consulta no início da puberdade é muito importante, até para quebrar aquele tabu que existe com relação à consulta ginecológica”, disse. A médica acrescentou que esse especialista ainda é visto com muita resistência, ainda há entre muitas pessoas a ideia de que a área genital não deve ser mexida. “Mas é justamente por causa desse desconhecimento que a paciente cresce com alguns conceitos e não faz seus exames preventivos, não procura uma contracepção adequada, não conhece seu corpo e isso traz problemas futuros”, alertou, acrescentando que o ginecologista é o médico da mulher como um todo.

A gravidez na adolescência e a exposição a doenças sexualmente transmissíveis, seja por falta de informação ou de acesso a métodos preventivos e contraceptivos, são alguns desses problemas. Para a médica, é preciso que os pais tenham consciência de que, antes mesmo da primeira menstruação e do início da vida sexual as garotas precisam de um ginecologista. “Nosso papel enquanto profissional é preparar a menina para a adolescência”, ressaltou.
 
Dra. Júlia Dias e seus alunos de Medicina no HU
Aqui em Sergipe, somente na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, unidade especializada no atendimento a parturientes de alto risco, no ano de 2016 foram realizados 1.288 partos de adolescentes entre 13 e 18 anos, número elevado que mostra o quanto as meninas estão engravidando numa idade em que seu corpo não está preparado para a maternidade, nem maturidade e condições suficientes para ter um filho. O número foi superior ao ano anterior (1.281 partos em pacientes nessa faixa etária).

Hoje com 19 anos, Rita Santos (nome fictício) já é mãe de duas meninas, uma com quase quatro anos e uma bebê de 6 meses. Mas o papel de mãe não era algo que ela esperava tão cedo na sua vida. A jovem reflete bem o perfil das adolescentes que veem a maternidade chegar de maneira inesperada na sua vida, fruto da desinformação. Antes da consulta pré-natal, Rita nunca tinha entrado num consultório ginecológico. “Para minha mãe, criança não precisava ir ao ginecologista, nem falar muito sobre isso. Muita coisa aprendi na escola, conversando com as colegas”, disse a jovem, que precisou largar os estudos para cuidar das filhas.

Visão equivocada
Por incrível que pareça, observa a ginecologista Júlia Dias, o receio de que a consulta ginecológica desperte na paciente o interesse pela sexualidade ainda é um fator que faz com que muitos pais adiem essa ida ao consultório. Mas a médica alerta que a descoberta da sexualidade é natural, está muito mais presente hoje, pois as crianças e adolescentes têm uma rede de informação muito grande e não há como fugir disso. “Não dá para fechar os olhos diante disso. O que se tem a fazer é orientar, porque a orientação é que vai permitir que a menina tenha informação e saiba como não adquirir uma doença sexualmente transmissível ou uma gravidez. A internet está aí. Se você não orienta, eles vão aprender de forma errada”, disse.

Muitas vezes essa nova paciente quando chega ao consultório vem, juntamente com mãe ou pai, cheia de dúvidas, desinformação, algumas delas fantasiosas, oriundas de crenças populares. “E com relação à contracepção a gente vê um despreparo enorme e isso é preocupante, porque continuamos tendo níveis elevados de gravidez na adolescência e isso hoje é um problema mundial que traz sequelas muito grandes na vida dessas meninas”, destacou a ginecologista.

BOXE

Importância de vacinar

Desde o ano de 2014, quando a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) foi instituída no Programa Nacional de Imunização no Brasil, o tema encontrou resistência e levantou muita polêmica sobre a real necessidade de vacinar meninas com idade entre 9 e 13 anos, antes de iniciarem a vida sexual. Boa parte dessa polêmica suscitada girava em torno do fato de se achar que a vacina poderia estimular o início da vida sexual. 

No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que a vacinação é a principal forma de prevenção contra o HPV entre meninas nessa faixa etária. Recentemente, a ginecologista Júlia Dias publicou um trabalho na revista Femina, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasco), sobre a importância da vacinação contra o HPV. Para ela, esse é um tema muito importante, que precisa ser debatido e mostrada a necessidade de vacinar, principalmente meninas (e agora também meninos) que ainda não tiveram relação sexual e nenhuma exposição ao vírus HPV.

No entanto, a vacinação, que iniciou com a imunização de meninas entre 9 e 13 anos e recentemente foi ampliada para meninos com idade entre 12 e 13 anos, não vem tendo uma adesão significativa. Segundo a médica, aqui Sergipe, a primeira dose da vacina para meninas foi dada de uma maneira muito eficaz, mas a na segunda dose houve 50% de perda, porque as meninas não voltaram às unidades de saúde. “Essas vacinas estão lá esperando pelas meninas e as mães não estão levando. Em contrapartida, temos tido uma incidência muito alta de HPV. No ano de 2016 tivemos 18 mil casos de câncer de colo de útero, com 4 mil mortes. Essa é uma estatística extremamente preocupante”, afirmou.


A médica alertou que vacinação é uma política de saúde e é preciso que as pessoas tenham acesso a informação sobre o quanto ela é importante. “Precisamos divulgar, desmistificar, para que as pessoas percam o medo. Isso é proteção, não é estímulo. O estímulo o adolescente já vai ter naturalmente, independente de ela vacinar ou não”, disse. Júlia acrescentou que, comprovadamente, seis tipos de câncer estão relacionados ao vírus HPV: de colo do útero, de vulva, vagina, de ânus, de laringe e de pênis. “Então a vacina traz um benefício inestimável”, disse. Ela acrescentou, entretanto, que para que a vacina tenha efeito é preciso que a imunização seja completa, com a segunda dose seis meses depois da primeira e a terceira dose cinco anos depois.

Beijos

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