A campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que acontece durante esse mês, conhecida como Setembro Amarelo, nos dá a oportunidade de também debatermos esse tema voltado ao público infanto-juvenil. Estatísticas mostram que situações desse tipo estão se tornando mais comuns nessa década, resultando em aumento de mortes entre crianças e adolescentes. De acordo com o Mapa da Violência, que se baseia em dados coletados pelo Ministério da Saúde, as faixas em que as taxas de suicídio mais cresceram no Brasil, entre os anos de 2002 e 2012, foram as dos 10 aos 14 anos, com aumento de mais de 40%, e dos 15 aos 19 anos, com crescimento de 33,5%. Para tratar desse tema, ainda cercado por certo tabu, Conversinha de Mãe entrevistou a psicóloga Isadora Lacerda, da Casa Positiva, sobre de que forma nós, principalmente mães, pais e educadores, podemos agir nessa prevenção, quais os sinais de mudança de comportamento nas crianças e adolescentes devem nos deixar atentos, quando procurar ajuda, entre outros pontos. Confira:
Conversinha de Mãe - Estamos em setembro, mês em que as atenções se voltam à prevenção do suicídio. Falando-se em crianças e adolescentes, de que forma nós, principalmente mães e pais, podemos agir nessa prevenção?
Isadora Lacerda - Acredito que a prevenção deva acontecer desde que a criança nasce. Digo isso por acreditar na importância dos laços saudáveis que a criança deveria ao menos vivenciar, experienciar e reconhecer. Os pais precisam estar mais presentes na vida dos seus filhos, ser mais carinhosos e empáticos para que a relação seja a mais saudável possível. O diálogo é sempre bem-vindo. Muitas vezes, por exemplo, enchemos a agenda dos nossos filhos com atividades por pensarmos que, dessa forma, eles terão uma rotina saudável; seria melhor ter mais tempo junto a eles, cultivando as relações interpessoais, realmente investindo tempo em família com qualidade, sem a companhia de dispositivos eletrônicos. Acredito que crianças mais felizes serão, provavelmente, crianças resilientes, e crianças resilientes a princípio não pensariam em suicídio.
Diálogo é sempre bem-vindo, ressalta psicóloga Isadora Lacerda |
CdM - Quais seriam alguns dos sinais que crianças e adolescentes nos passam de que algo não vai bem e que na cabeça deles passa essa possibilidade de tentar o suicídio, para que possamos estar mais atentos?
IL – Alguns sinais comuns, que devem despertar atenção especial, são: alterações significativas na personalidade ou nos hábitos; comportamento ansioso, agitado ou deprimido; queda no rendimento escolar; afastamento da família e de amigos; perda de interesse por atividades de que gostava; descuido com a aparência; perda ou ganho repentinos de peso; mudança no padrão usual de sono; comentários autodepreciativos recorrentes ou negativos e desesperançosos em relação ao futuro; disforia (combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva); comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e interesse pelo assunto; doação de pertences que valorizava; expressão clara ou velada de querer morrer ou de pôr fim à vida; bullying (quem pratica pode praticar o suicídio também).
CdM – E ao perceber algum desses sinais, como falar abertamente com crianças e adolescentes sobre suicídio?
IL – Dialogar é sempre a melhor opção; porém, cuidado com o tom. O ideal seria abordar o tema de modo sensato e franco, o que vai fortalecer o vínculo com a pessoa, criança ou adolescente, que vai se sentir acolhida e respeitada por alguém que se interessa por seu sofrimento. Assim, os pais podem (e devem!) falar sobre o assunto. Se o tema não aparecer espontaneamente, ele pode ser introduzido de modo a deixar claro que certas coisas acontecem e que devemos conversar sobre elas. É possível dizer frases como: “Algumas vezes, quando nos sentimos mal, pensamos que seria melhor não ter nascido ou que seria preferível morrer. Você já teve pensamentos desse tipo? ”. É fundamental ouvir com atenção e respeito, sem julgamento ou censura e sem preleções morais ou religiosas. O importante é reafirmar a preocupação e o desejo de conversar e ajudar, mesmo que isso implique tocar em assuntos delicados. O adolescente deve ser acolhido, receber proteção e apoio. É preciso respeitar a dor do outro. Muitas vezes, podemos achar a motivação banal ou desimportante, mas cada um sente e se angústia com as coisas de forma particular. Tentativas concretas de suicídio, mesmo em casos que indicam baixa letalidade (como cortes superficiais na pele), podem sugerir a ocorrência de tentativas futuras. Não se deve banalizar ou julgar a tentativa como recurso para chamar a atenção. Após uma conversa, os pais devem encaminhar o filho a um psicólogo.
CdM – Muitos adultos que passam por situações difíceis veem o suicídio como um ponto final para o sofrimento pelo qual estão passando. Mas no caso de crianças e adolescentes imagino que muitas vezes eles não tenham a noção exata de que é um passo sem volta. Por isso é tão importante estar atento e conversar mais sobre?
IL – Sim, a criança só tem consciência sobre a morte por volta dos 12 anos. Nessa faixa etária, estão se tornando frequentes casos de automutilação com lâminas, com o intuito de aliviar a dor psíquica por intermédio da dor física. Por isso, volto a chamar a atenção sobre a importância do diálogo e do reconhecimento das emoções.
Beijos
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