É fato que temos visto e vivido numa sociedade cada vez mais intolerante. Lamentavelmente!! A explicação para isso talvez esteja na falta de respeito entre as pessoas, entre as diferenças de pensamento e atitudes de pessoas diferentes. Por isso a importância de se aprender a respeitar o próximo, seja ele quem quer que seja, desde a infância. Para tratar sobre isso, entrevistamos a psicopedagoga Bárbara Ivo. Confira:
Conversinha de Mãe - Estamos vivendo num mundo onde está cada vez mais clara a intolerância das pessoas quando têm opiniões divergentes sobre qualquer assunto, postura esta que temos visto também em crianças e adolescentes. Por que dessa onda crescente de intolerância?
Bárbara Ivo - Vale lembrar que tolerância é a capacidade de poder admitir ou suportar maneiras, pensamentos, opiniões e atitudes dos outros opostas a sua. Então, podemos considerar como intolerante o sujeito, adulto ou criança, que não aceita a diversidade que o cerca. Aquele que tem a crença de que seu ponto de vista é o melhor e deve ser aceito por todos. É preciso levar em conta que os traços ou características que as pessoas apresentam são frutos de uma combinação de fatores, entre eles, o ambiente familiar – este tem uma participação crucial no comportamento refletido pelo individuo. Como estamos vivendo uma era onde a falta de limites e a permissividade por parte dos pais é muito grande, o resultado disso são crianças acostumadas a terem seus desejos atendidos constantemente. Crianças que não podem ser contrariadas e, consequentemente, não sabem lidar com frustrações. Não estão acostumadas a receber “não” como resposta e, naturalmente, tornam-se sujeitos intolerantes.
CdM -Qual a importância, desde cedo, de “ensinar” o respeito às crianças ou isso é uma coisa que se adquire pelo que se observa no convívio diário?
BI - A importância de “ensinar” o respeito é porque essa é a base da convivência humana. Podemos considerar o respeito como sendo justamente o oposto da intolerância, visto que respeitar é levar o outro em consideração mesmo diante das divergências de costumes, opiniões, etc. As relações estão fragilizadas e mesmo que a falta de respeito não seja o único responsável por isso, é um ponto determinante para tentarmos reverter este cenário. Os primeiros vínculos sociais de uma criança são seus pais (ou aqueles que assumiram esta função no caso de alguns) e tem sido nítida a inversão de papeis, na qual os pais deixaram de ser autoridades sobre os filhos e os filhos é que passaram a determinar o funcionamento e as regras da casa, inclusive a atitude dos próprios pais. Em um cenário como este, o respeito não existe, tampouco pode ser ensinado/aprendido. Podemos ver o resultado disso pelo comportamento dessas crianças em seu meio social e em suas relações com as demais pessoas que o cercam dentro e fora do ambiente domiciliar.
Essas crianças acham que podem determinar as regras da escola e sala de aula, que podem reproduzir com professores e outros adultos e crianças o mesmo comportamento de casa. Assim, acabam sendo motivos de problemas para escola, coleguinhas e os próprios pais que em determinado momento não sabem mais como lidar com a situação.
Obviamente elas não estão condenadas a serem adultos assim, mas aprenderão isso de uma forma muito mais difícil.
CdM - Como se explica o comportamento de muitas crianças e adolescentes que se sentem “reis” e “rainhas”?
BI -É natural elas se sentirem assim já que são autoridades em suas casas e tem todos em suas mãos. Elas determinam o que vão comer, comprar, para onde vão e como as coisas funcionarão. Para alcançar isso adotam algumas estratégias como choro, gritos, deitar no chão e até quebrar objetos.
No entanto, devemos nos lembrar de que este cargo foi conquistado por elas devido à falta de atenção, limites e disciplina por parte dos pais. Esse comportamento se estende e essas crianças costumam se tornar jovens egoístas, arrogantes, frágeis e cheios de problemas. Tudo isso nos leva para o ponto inicial dessa conversa, adultos desestruturados emocionalmente que terão dificuldade nos seus relacionamentos, inclusive quando assumirem o papel de pai ou mãe. Pessoas impacientes, imediatistas, egoístas e sem respeito ao próximo. Consegue perceber o ciclo? Fica claro que os pais de agora precisam buscar ser presentes e participativos para que seus filhos se desenvolvam da melhor forma, inclusive enquanto cidadãos.
Não estamos considerando aqui os casos que envolvem patologias psicológicas ou neuropsicológicas, todavia, mesmo nesses casos, a postura dos pais diante da educação dos filhos pode contribuir de forma a melhorar ou piorar o quadro.
CdM - Tem como correr atrás, quando se trata de mostrar às crianças a importância do respeito em todos os tipos de relacionamento?
BI -Claro que sim! Dizer não a isso é desacreditar na educação ou na capacidade das terapias em construir novos caminhos. Educar de fato não é uma tarefa fácil. É preciso, inclusive, levar em consideração que cada família tem seu funcionamento próprio e que cada indivíduo é único, mas todas tem um ponto em comum: a grande importância da interação familiar no desenvolvimento infantil em seus aspectos físico, psíquico, cognitivo e social. Claro que para desempenhar esse papel de serem pais educadores muitas coisas estão envolvidas, mas citarei aqui apenas três delas: amor, tempo e disciplina.
O amor é a base de tudo. É o amor que motiva o desejo de estarem unidos e pelo amor é que os pais estarão dispostos a rever suas prioridades e assumir o compromisso de educarem os filhos dedicando mais tempo a eles. E o tempo que eles precisam pode ser traduzido em atenção, não adianta tirar uma tarde para ficar em casa com as crianças e não fazer nada por elas ou com elas. Quando essa interação passa a existir, acaba levando ao terceiro ponto que é a disciplina. Disciplinar é o ato de pôr ordem, de corrigir, de orientar. Disciplinar faz parte do processo de educação e é um ato de amor!
Hoje as famílias podem ter suporte de muitos profissionais que contribuirão para o desenvolvimento de uma criança. Professores, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Psicopedagogos, entre outros, mas passar para eles a responsabilidade total de desenvolver os filhos é uma ilusão porque para o desenvolvimento de seres humanos, saudáveis, equilibrados e pacientes ou tolerantes é preciso uma família participativa.
Eu costumo dizer que um dia a conta fecha e os pais podem lucrar ou ter prejuízos, e muito depende do trabalho que fizeram.