Embora pareça estranho, mas as crianças também são vítimas de acidente vascular cerebral (AVC), muitas vezes, de maneira fatal. A doença é a que mais mata pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No ano de 2008, foram quase 6 milhões de pessoas mortas por AVC no mundo. Nesse mesmo ano, apenas no estado de São Paulo, foram 266 registros de casos da doença em crianças, sendo que 26 delas foram a óbito, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde.
Semana passada, aqui no estado foi noticiado o caso de uma garota de 12 anos que passou mal na escola, com fortes dores de cabeça e vomitando. Foi levada para um hospital, onde foi diagnosticada com uma “virose”, medicada e liberada. Em casa voltou a ter os mesmos sintomas. Levada a outro hospital, outro médico deu o diagnóstico: a menina tinha tido um acidente vascular cerebral e ela estava em coma.
Hoje, é celebrado o Dia Mundial de Combate ao AVC. Data propícia para levantar o alerta também para o combate ao AVC infantil. No final do século XX e começo do XXI, os principais centros de pesquisas começaram a se preocupar em caracterizar um grupo particular de crianças com AVC – que era antigamente classificado como paralisia cerebral.
Na década de 1990 no Brasil, a neurologista Maria Valeriana Leme de Moura Ribeiro, professora de Neurologia Infantil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criou equipe de estudos sobre AVC infantil, incentivando o início de pesquisas nessa área e alertando: “Precisamos divulgar que AVC na criança existe e, a conscientização e valorização da doença é fundamental”, diz a neurologista.
Campanha de conscientização
A equipe de estudos sobre AVC infantil do Departamento de Neurologia da Unicamp foi reconhecida pela International Pediatric Stroke Study (IPSS) do Canadá, EUA e Inglaterra; juntamente com o grupo do Chile, estes pesquisadores brasileiros são considerados representantes da América Latina em pesquisa do AVC pediátrico.
A Campanha Nacional de Conscientização do AVC Infantil, lançada no país em 9 e 10 de outubro de 2014, por ocasião do VIIIº Congresso Paulista da ABENEPI terá duração de oito meses, terminando em maio de 2015, mês do AVC na criança nos Estados Unidos. “Divulgamos a doença nos ambientes de ensino, mas a caminhada seguia lenta, Com essa campanha, aceleraremos o passo, atingindo muito mais médicos e estudantes”, conclui Valeriana.
A doença
De acordo com dados do Baltimore Washington Cooperative Young Stroke Study, crianças com anemia falciforme apresentam 200 vezes mais chances de AVC; outras causas que devem ser lembradas são: cardiopatias congênitas, varicela, vasculopatias vasculites, meningencefalites, malformações dos vasos cerebrais, aneurismas; e, lembrar que em quadros isquêmicos, 5% das crianças sofrem de doenças hematológicas.
Há casos que o AVC pode ocorrer no período pré-natal. “Esse, em geral, acontece em mães gestantes que apresentam, por exemplo, trombose venosa em qualquer local do organismo, que passa para o feto intra-útero”, informa Valeriana.
Isso em geral acontece no terceiro trimestre da gestação, mas os sinais no bebê são reconhecidos tardiamente. “Com dois ou três meses de vida, verifica-se que o bebê não movimenta um lado do corpo”, explica, e o AVC intra-útero somente pode ser comprovado por meio de exames de imagens.
É importante ressaltar que, diferentemente dos adultos, as causas são de difícil reconhecimento e, aproximadamente, 25% das crianças que sofrem AVC não têm etiologia identificada.
Antes de iniciar o tratamento e prevenir a reincidência, é necessário reconhecer os fatores de riscos que levaram a esse quadro, fatores sanguíneos, cardíacos e infecciosos. “Uma criança de dois anos de idade que repentinamente evidencia uma hemorragia ou obstrução de um vaso, interrompendo a circulação cerebral, raramente vai se queixar de dor de cabeça, tontura ou braço fraco, mas chora e procura o colo da mãe”, esclarece a neurologista.
Com presença de sintomas graves identifica-se nos pais ansiedade e nervosismo, uma vez que o filho está inconsciente, com mudança no comportamento, na coordenação motora e, por vezes, perde a fala. Por isso, também, devem ser reconhecidas e entendidas as condições dos pais que levam a criança ao pronto-atendimento, ao par de um atendimento imediato e adequado.
Na evolução a médio e longo prazo as sequelas neurológicas mais frequentes são a hemiplegia com alterações motoras e sensitivas, distúrbios sensoriais, e perceptivos. Outros distúrbios neurológicos de gravidade variável podem também surgir após o AVC, como diminuição da habilidade para a leitura, déficit de memória, além de dificuldades linguísticas, rebaixamento intelectual e epilepsia.
Atualmente, 200 a 250 milhões de paciente adultos sofrem de AVC no mundo; em crianças os números são de 13 a 15 milhões de casos. No Brasil não há, ainda uma avaliação precisa dos números, entretanto, sabe-se que a ocorrência é maior no período perinatal. “Em um berçário de risco, como o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), da Unicamp, registramos casos em uma criança para cada quatro mil nascimentos vivos¨, comenta.
Beijos
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Com informações da Assessoria de Imprensa